22 de outubro de 2008

Eixão mais "protegido" (contra quem?)

Como se não bastasse a proposição do fim do Eixão do Lazer (fechamento dos 18 km do Eixo Rodoviário durante os domingos, de 6 às 18 h), agora o GDF vem com mais uma novidade: a construção de muretas tipo new jersey no meio do Eixão. As muretas terão 85 cm de altura e dentro haverá um jardim com coroa-de-cristo, uma planta espinhosa "para que os pedestres não atravessem" (palavras do diretor do DER, Luiz Carlos Tanezini).

Eu não sou a favor de ninguém se arriscar para atravessar 6 faixas de carros a 80 km/h. Eu mesmo não faço isso. Mas vamos ver o lado de quem faz.

Para quem não sabe, a distância entre as passagens de pedestre do Eixão é de 720 metros. Isso significa que se você quiser ir de uma entrequadra a outra são 10 minutos de caminhada a mais só para atravessar a via. Sob sol ou chuva. O deslocamento transversal ao eixo, por exemplo, ir da comercial da 305 Norte para a comercial da 405 Norte, poderia ser uma caminhada de 12 minutos (0,9 km); em vez disso, leva 22 minutos(1,6 km).

E é comum fazer esse deslocamento a pé. Isso porque devido à organização das linhas de ônibus de Brasília, esse percurso que poderia ser de 1,5 km requer uma viagem de 9 km.

Outro problema é que as passagens subterrâneas em si são um nojo. Escuras, estreitas (3 m) e com cantos escondidos, sujas, com cheiro de urina e fezes. Prometem uma reforma (será que dessa vez haverá acessibilidade?), iluminação, câmeras de segurança. A mureta estará lá para sempre. Quanto tempo nossa segurança durará? Quanto tempo levará até o conserto de uma luz quebrada ou uma câmera destruída pelo vandalismo?

Prometem também construir 16 km de ciclovias, se o IPHAN deixar. De acordo com o Instituto, uma mureta de 18 km não fere a escala bucólica da cidade. De jeito nenhum. Mas uma ciclovia, isso sim é um crime contra a escala viária de Brasília.

A ciclovia, saindo ou não, junto com a divisão do Eixão em dois mesmo durante os domingos, será o novo mote para o fim do Eixão do Lazer. Eu não sou o único que pensa assim.

Não é à toa. O próprio Secretário de Transportes já cantou a bola:
“Se eu sentir que os outros dois projetos [reforma das passagens subterrâneas de pedestre e ciclovia] vão atrasar muito, peço para desmembrar o das barreiras.”
Por que não desmembrar o da reforma das passagens? Garanta primeiro a segurança do pedestre e depois coloque a barreira!

Brasília, mais uma vez, caminha no sentido oposto do resto do mundo. Enquanto em locais mais civilizados procura-se mitigar o impacto da passagem de grandes vias sobre o tecido urbano, aqui se quer aumentá-lo. Por quê?

A desculpa para a construção desse monstro são as colisões frontais entre veículos na via. Essas colisões são quase sempre fatais porque a velocidade relativa é de 160 km/h (considerando o limite de velocidade da via), e não há proteção eficiente para esse tipo de impacto porque os carros se destróem e as pessoas morrem esmagadas.

Que tal então reduzir o limite da via para 60 km/h? Seriam apenas 2 minutos a mais da Rodoviária até a Saída Sul ou Norte! Mas ao contrário do resto do mundo, aqui o Detran gosta de aumentar os limites de velocidade*, não diminuí-los. Então que tal mais fiscalização eletrônica para evitar o excesso de velocidade fora dos horários de pico? No último acidente, o motorista que atravessou o canteiro central dirgia em alta velocidade*.

Por que não fazer uma barreira com postes maleáveis, que absorveriam boa parte da energia cinética do veículo? Só em último caso poderia se pensar em fazer uma mureta. A propósito, de acordo com este instituto de pesquisas, 50 cm de altura são suficientes para desviar uma picape de 3 toneladas a 72 km/h.

Para que, ou melhor, contra quem servirão os 85 cm com plantas espinhosas em cima?

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14 de outubro de 2008

Exemplo prático da importância de conduzir a bicicleta defensivamente

Imagine a situação ao lado. Ambas as vias são coletoras de mão dupla. Não há sinalização vertical nem horizontal. Quem vai primeiro? O veículo A, B ou C?

Veja que de qualquer modo A não pode ir antes de C, pois isso seria infração ao Artigo 38 do Código de Trânsito Brasileiro. Quem vira à esquerda tem que dar preferência a quem trafega no sentido contrário.

Se B e C fossem dois carros, a situação seria nebulosa. Por um lado, B está à direita de C, que é a regra normal de preferência. Por outro lado, B está fazendo uma conversão.

Como o veículo C era eu, de bicicleta, a situação fica clara. Diz o Artigo 38 do CTB: "Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas (...)".

O carro A parou para mim, mas o motorista de B avançou na minha frente, quase causando um acidente. Estar atento, mão no freio e comportamento defensivo foram minha salvação. E depois de tudo isso, um grito com vontade, mas sem xingar a mãe do motorista.

Fica a lição para os amigos ciclistas. Mesmo que você esteja no seu direito, esteja preparado para o pior.

8 de outubro de 2008

FÁCIL? Tá difícil...

Como grande fã de tudo que torna a vida mais fácil, fui ontem retirar meu Cartão Cidadão no Fácil DF. Nada mais de carregar dinheiro para pagar ônibus, nada de troco. Até aí tudo bem.

O problema é que, ao contrário de qualquer lugar inteligente do mundo, a passagem em Brasília custa mais caro no cartão do que em dinheiro. Ao comprar créditos na Internet, a passagem de R$ 2,00 sai por R$ 2,06 e a de R$ 3,00 por R$ 3,09.

Como o Fácil DF é uma entidade "sem fins lucrativos" formada pelas empresas de ônibus, fica a pergunta: o GDF autorizou o aumento? Ou pelo menos sabe que as empresas estão cobrando mais? O art. 4º, § 1º, a portaria da SETRANS que estabelece a bilhetagem eletrônica fala em estrutura tarifária que incentive o uso do cartão. O que existe hoje é o contrário e ninguém parece se importar.

3 de outubro de 2008

Ainda sobre a moto: álcool

Pesquisando um pouco mais sobre o mercado de motos, vi que está previsto o lançamento da moto flex em 2009. Espera-se que ela polua menos.

A solução, no entanto, vem meio tarde. Não só porque o ar das grandes cidades está intolerável, mas porque já deram um "jeitinho brasileiro" na história. Segundo um post do fimdetarde.net, é só trocar uma peça do carburador, e voilà, "álcool move meia frota de moto em Ribeirão Preto".

Veja o artigo aqui.

Pessoalmente, não acredito que a motocicleta vá se tornar uma solução sustentável só por conta do álcool, seja ele de fábrica ou não. Porém, é um passo nessa direção.