16 de setembro de 2009

Armadilhas do carro nas finanças pessoais (3)

Este é o capítulo final da série sobre armadilhas do carro nas finanças pessoais, com mais 3 armadilhas:

Armadilha 4: Negligenciar as pequenas despesas
Problema: R$ 1,00 para o flanelinha, R$ 2,00 no estacionamento da faculdade, R$ 7,00 no lava-jato. Parece pouco, mas ao longo de um ano isso soma R$ 1.200 -- ou uma passagem aérea Brasília - Salvador de ida e volta para duas pessoas.

Solução: Anote tudo que for relacionado com o carro. Separe o dinheiro pequeno em algum lugar, de onde você só tire para isso, sem misturar com outras despesas (um envelope, ou pote qualquer).

Armadilha 5: Carro não é investimento, juros são despesas
Problema: Se você comprou um carro a prestação, as parcelas não são um "investimento". Investimento é o que rende dinheiro. Automóvel só gasta dinheiro. Pode até ser que você esteja aumentando seu patrimônio, mas isso só acontece se depois de descontados os juros e a depreciação (ver Armadilha 2), o valor for positivo.

Solução: Procure saber ou calcule quanto você está pagando de juros. Em geral, os financiamentos de veículos são feitos com a Tabela Price, onde as prestações são fixas e os juros decrescentes. Como em qualquer financiamento, em um determinado mês, o valor dos juros é a taxa multiplicada pelo saldo devedor. Não esqueça de acrescentar os itens acessórios como seguros e taxas do banco.

Exemplo: Se você pegou financiamento a 1,48% ao mês e seu saldo devedor é R$ 15.000, você precisa contabilizar R$ 222 como juros. Só o resto da prestação vai para abater sua dívida.

Bônus: Se você acredita que o valor do carro poderia estar em outro lugar, por exemplo, uma aplicação financeira, então o custo da perda desse valor deve ser também contabilizado (chama-se "custo de oportunidade"). O princípio é o mesmo: se seu carro vale R$ 15.000 e a aplicação financeira está rendendo 0,9% ao mês, você deixou de ganhar R$ 135. Deixar de ganhar e gastar são a mesma coisa.

Armadilha 6: Não esqueça de somar tudo!
Problema: Entre juros, depreciação, consertos, impostos, combustível, estacionamento... quanto custa, no final das contas, manter o seu veículo? É um preço que vale a pena?

Solução: Some tudo por no mínimo um ano. Considere o custo de soluções alternativas: quanto custa um ano de transporte público todos os dias? Quanto custa um ano de transporte público 6x por semana e táxi 1x por semana? Se vale a pena o gasto a mais ou não, é uma questão que só você pode responder.

Exemplo: Neste outro post, eu calculo preços típicos de manter um automóvel. Se você encontrar algo muito diferente, escreva para mim. Ou eu fiz contas erradas, ou você está esquecendo alguma coisa.

9 de setembro de 2009

Armadilhas do carro nas finanças pessoais (2)

No meu último post, estava falando sobre as armadilhas que o carro coloca para quem quer fazer um bom orçamento e assim assumir o controle financeiro da sua vida. Hoje vou analisar 3 delas, outras 3 ficam para o próximo post. Aí vão:

Armadilha 1: Contabilizar despesas grandes só no mês do vencimento.
Problema: Despesas muito importantes relacionadas aos veículos ocorrem anualmente, e não mensalmente: IPVA e seguro, principalmente.

Solução: Guarde todo mês dinheiro que seja suficiente para essas despesas no ano seguinte. Contabilize esse montante como "despesa com automóvel" e não como "investimento". No mês do vencimento, saque e pague à vista, o que costuma render descontos.

Exemplo: Se seu seguro custa R$ 1.500 por ano e você paga R$ 600 de IPVA, comece a guardar R$ 175 por mês para essas despesas, em vez de apertar seu orçamento no mês em que elas vencem.

Armadilha 2: Carros não duram para sempre.
Problema: Como qualquer máquina, o automóvel tem uma vida econômica limitada. Portanto, você precisará estar preparado para substituí-lo.

Solução: Estabeleça em quanto tempo você vai querer trocar de carro. Some esse tempo à idade atual do seu veículo e procure nos jornais quanto vale um carro igual ao seu dessa idade. Subtraia do valor do carro que você quer comprar e divida pelo número de meses que faltam para a troca. Guarde todo mês esse dinheiro. Contabilize esse montante como "despesa com automóvel" e não como "investimento".

Exemplo: Seu carro é 2007 e você quer trocá-lo daqui a 2 anos. Procure saber quanto custa um carro equivalente, dois anos mais antigo que o seu, ou seja, 2005, e o carro equivalente ao que você quer comprar (digamos, um zero km). Se o carro zero km custa R$ 46.000 e o 2005 está por R$ 25.000, você vai precisar juntar R$ 875 por mês. A não ser que você queira pagar juros, o que, no Brasil, é sempre uma péssima ideia.

Armadilha 3: Carros quebram quando você menos espera.
Problema: Ainda que você seja um dono cuidadoso e que faça as manutenções preventivas recomendadas, você estará sujeito a surpresas desagradáveis pelo caminho. Isso pode ser imprevisível, mas é absolutamente certo. Por isso, você precisa estar preparado.

Solução: Uma poupança para emergências gerais pode dar conta do recado, mas não ajuda você a descobrir quanto custa manter o carro. E, afinal, consertos são parte integrantes de possuir um automóvel. É melhor separar esse dinheiro em uma conta específica para este fim, que pode ser a mesma dos itens anteriores. A regra geral é: para cada R$ 1,00 que você colocar em combustível, separe R$ 0,50 para óleo, pneus, revisões... e quebras. E, sim, isso significa que na prática a gasolina custa R$ 4,00 o litro. Faz a gente pensar, não?