30 de setembro de 2008

Outro problema da moto: poluição

Além de ser mais caro do que o ônibus, conforme demonstrado no meu último post, a moto tem um problema adicional: poluição.

De acordo com dados do Ministérios das Cidades (pág. 23 desta publicação), a motocicleta média brasileira polui 120% a mais do que o carro. E olha que nossos carros não são exemplo para ninguém (talvez para a Índia). Eles poluem 6,4 vezes mais do que os ônibus.

O problema das motos é que os motores são simples e de baixa tecnologia; não têm injeção eletrônica, nem catalisador e não funcionam a álcool.

Entendo que a moto tem vantagens em tempo, conveniência, e potencialmente custo (se carregar 2 passageiros). Mas para cada pessoa que trocar o ônibus pela moto por qualquer motivo que seja, temos 14 (catorze!) vezes mais poluição.

E para quem ainda acha que moto é solução para o engarrafamento, saiba que a moto ocupa apenas 50% a menos de espaço na via que um carro. Isso significa, por passageiro, 4,2 vezes mais congestionamento do que provoca um ônibus.

26 de setembro de 2008

O que é mais barato: moto ou ônibus?

Essa semana, saiu na imprensa em vários jornais, entre eles Folha de São Paulo e Infomoney, uma pesquisa da ANTP que diz que andar de moto é mais barato que andar de ônibus.

Eu não sei qual foi a metodologia usada pela ANTP (procurei no site deles e não encontrei maiores detalhes), mas vendo o valor que eles colocaram para a viagem de carro, desconfio do resultado.

A tal pesquisa diz que uma viagem de carro de 7 km custa R$ 4,84. A mesma viagem de moto custaria R$ 1,49 e de ônibus R$ 1,96 (bem perto do custo em Brasília: R$ 2,00).

O preço da viagem de carro me parece bastante subestimado. Vou assumir que a pessoa faz a tal viagem de 7 km, ida e volta, 1 vez por dia, todos os dias. Claro que o valor final depende do tipo de carro, então fiz 3 cenários: um carro zero 1.4, um seminovo 1.0 e um usado.

Depois de ver que R$ 4,84 está grosseiramente subestimado, fiz também o cenário para moto. Considerei que moto não paga estacionamento nem seguro. Mesmo assim, o passeio de motoca ainda sai 66% mais caro do que o ônibus -- e mais do que o dobro do que tinha previsto a ANTP.


Novo 1.4 Semi 1.0 Usado Moto
Valor do veículo R$ 35.000 R$ 20.000 R$ 12.000 R$ 6.000
Consumo cidade km/l 10 12 7 25
Gasolina R$ R$ 67,20 R$ 56,00 R$ 96,00 R$ 26,88
Manutenção % 40% 60% 80% 60%
Manutenção R$ R$ 26,88 R$ 33,60 R$ 76,80 R$ 16,13
Depreciação ao ano 25% 20% 15% 15%
Depreciação R$ R$ 729 R$ 333 R$ 150 R$ 75
Juros do capital (1% am) R$ 350 R$ 200 R$ 120 R$ 60





Seguro (c/ gar. - 8% ao ano) R$ 233 R$ 133 R$ 80 R$ -
IPVA (3% ao ano) + DPVAT R$ 94 R$ 57 R$ 37 R$ 22





Estacionamento (res.+trab.) R$ 150 R$ 150 R$ 150 R$ -





TOTAL MENSAL R$ R$ 1.650,75 R$ 962,93 R$ 709,47 R$ 199,67
Total por viagem R$ 27,51 R$ 16,05 R$ 11,82 R$ 3,33

24 de setembro de 2008

Metrô x Esplanada: o que falta para integrar?

Até o mês passado, a desculpa do GDF era que os veículos da TCB (aqueles roxos) não tinham o padrão de conforto "necessário" para serem integrados ao metrô. Agora que os ônibus são novinhos, com ar condicionado e acesso para cadeiras de roda, minha pergunta é: o que falta para integrar a Estação Central com a Esplanada dos Ministérios?

"Falta o Brasília Integrada", dirá a Secretaria de Transportes. É uma meia-verdade. Vejamos por quê. Existem 3 tipos de integração: física, tarifária e operacional.

Integração física é simplesmente colocar uma linha perto da outra, ou duas linhas passando pelo mesmo ponto de parada. Por exemplo, quando o São Sebastião - W3 Sul (147.2) pára na Estação Asa Sul, ali há uma integração física.

Integração tarifária é fazer com que andar em mais de um veículo custe menos do que a soma dos tarifas individuais. É o que acontece em SP: a passagem de ônibus custa R$ 2,30, a de metrô R$ 2,40, mas uma viagem em ambos os modos, em vez de R$ 4,70, custa R$ 3,65.

Integração operacional é criar uma lógica entre modos, trajetos, preços e horários de forma a tornar a utilização do transporte coletivo mais eficiente.

Volto ao caso Metrô x Esplanada. A integração tarifária seria mais fácil com o Brasília Integrada, sem dúvida, mas o Metrô-Rio tem tido experiências exitosas com bilhetes de integração em papel. Inclusive, em algumas linhas, não se cobra nada a mais do usuário.

A integração física, então, não depende em absolutamente nada do Brasília Integrada. É claro que a Estação Central fica embaixo da Rodoviária do Plano Piloto e isso por si só já serve como uma integração. Mas poderia ser muito melhor.

As linhas que fazem a continuação natural da viagem de quem chega de metrô à Rodoviária, por algum motivo esdrúxulo, ficam todas do lado oposto ao da Estação Central. "Sempre foi assim" não é motivo para continuar do mesmo jeito.

Para quem é homem, como eu, uma caminhada de 4 ou 5 minutos pelo terminal não é agradável, mas não chega a ser um problema. Para uma mulher jovem, arrumada para o trabalho, de salto alto e tudo, a história é outra. Ainda mais com a triste presença constante de crianças e adolescentes já viciados em drogas por ali.

A solução: tirar da Plataforma C (a que é em frente ao metrô) os ônibus de Taguatinga e Ceilândia. O metrô já vem dessas cidades, portanto o número de passageiros do metrô que embarca nessas linhas é zero. No lugar delas, colocar o Rodoviária - Esplanada (108), o L2/W3 Norte (115), o W3/L2 Norte (116), o UNB (110), e, se não for pedir muito, um circular para o Eixo Norte.

Difícil? Não. Nenhuma obra é necessária. Os acessos que estão lá servem perfeitamente. É só trocar meia dúzia de placas de lugar. Então, o que é que está faltando?

22 de setembro de 2008

A vida sem carro e o Dia Sem Carro

Segunda-feira, 22 de setembro de 2008. Para alguns poucos em Brasília, hoje é o "Dia Mundial Na Cidade Sem Meu Carro". Para a grande maioria, infelizmente, hoje é um dia como outro qualquer.

Para os 1 milhão de motoristas brasilienses, tudo está absolutamente normal. As 14 faixas dos Eixos Rodoviários estão abertas, assim como as 12 do Eixo Monumental e as vias W3, L2 e L4. Os automóveis ocupam os estacionamentos da Esplanada como em qualquer outro dia. Quem pára o carro em pleno espaço público no Setor de Autarquias o fez hoje como faz sempre, ou seja, contando com a conivência do DETRAN e da PM.

Para os 2,3 milhões de habitantes que não têm carro, também nada extraordinário está acontecendo hoje. Para essa gente, que é a maioria da população, não custa lembrar, não existe um Dia Sem Carro. A nossa "Cidade Sem Meu Carro" acontece 365 dias por ano, faça chuva ou faça sol.

Os "Sem Meu Carro" queriam ver, nem que fosse por um diazinho só, essa cidade ser um pouco menos difícil. Mas nada de diferente está acontecendo hoje. Os ônibus não estão mais cheios, nem mais vazios. As linhas e tarifas são as de sempre. Os zebrinhas* novos continuam dando as mesmas voltas dos zebrinhas velhos. O metrô não tem integração. Os buracos nas calçadas estão lá. As passarelas sob o Eixão seguem escuras e fedorentas. O trânsito continua seguindo a lei do mais forte e ameaçando ciclistas e pedestres.

Ainda assim, tomamos o transporte coletivo, caminhamos e pedalamos, e seguimos nossa vida sem carro. Sem protestar, sem aparecer no jornal e sem fazer um "Dia Mundial" por dia.

Na visão dos motoristas, quando se tira o "Meu Carro", sobra a só a "Cidade Sem". Cidade Sem transporte de qualidade, Cidade Sem calçadas, Cidade Sem ciclovias, Cidade Sem qualquer coisa que faça alguém abrir mão do automóvel. Mas ninguém teve coragem de tirar o motorista de seu conforto, mesmo por um dia.

Ao viver sem carro, a gente aprende que a "Cidade Sem" pode ser difícil, mas não é impossível. O "Dia Sem Carro" deveria ensinar isso: que é possível um dia, uma semana, ou um ano sem carro. Que a vida sem carro depende mais da vontade de cada um do que da vontade do Governo, pois as soluções cotidianas podem não ser as melhores, mas existem.

Enfim, fica a pergunta: se nós já sabemos a lição, e quem deveria aprendê-la não está sendo convidado a refletir, qual o sentido desse "Dia Sem Carro"? É colocar o Ministro das Cidades por 5 minutos dentro de um ônibus ou pedalando em uma enorme calçada, cercado de seguranças, para tirar fotos? É fazer mais um seminário cheio de promessas e discussões sobre problemas para os quais já se sabe a solução, mas não se quer aplicá-la?

Fernando Pessoa dizia que "tudo vale a pena, quando a alma não é pequena". Nos próximos 364 dias, pensarei assim. No entanto, neste dia 22 de setembro de 2008, despeço-me com as palavras revoltadas de Caetano Veloso:
"(...) Vão sempre matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada, nada, nada. Absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa! (...)"

Porque, sinceramente, esse Dia Sem Carro não vale a pena!

* Zebrinha é o apelido pelo qual são conhecidos os micro-ônibus que circulam no Plano Piloto em Brasília.

Bem-vindos ao meu blog!

Nenhum dia melhor para lançar um blog sobre vida sem carro do que no dia 22 de setembro. Sejam todos bem-vindos, leiam e façam seus comentários.