8 de dezembro de 2008

Mais um assassino solto

Imagine um bandido com uma pistola. Ele mata 3 e fere 4 gravemente. O criminoso diz que "foi um acidente". Você deixaria uma pessoa dessas sair da prisão no mesmo dia em que entrou, levando embora sua pistola? Você acharia R$ 5.000 uma fiança justa para liberar esse sujeito?

Agora, imagine as mesmas vítimas, mas mortas e feridas por alguém dirigindo um carro em alta velocidade. E se o motorista, ainda por cima, estivesse bêbado?

Foi o que aconteceu hoje, em Cubatão-SP. O sujeito matou 3, feriu 4, pagou R$ 5.000 e saiu de lá com a carteira de motorista e tudo. Detalhe: o carro que ele dirigia era um Astra, não um Fusca.

Assim como 95% dos desastres automobilísticos, isso não merece ser chamado "acidente". É um crime e tem que ser tratado como tal.

Defendo o Estado de Direito, o direito à ampla defesa e não tenho nada contra o direito de fiança. Porém, penso:
1) Uma vez que o criminoso foi preso em flagrante, não recomendaria a prudência e o bom senso impedi-lo de cometer novos crimes ao ser solto? O CTB não deveria prever a suspensão automática do direito de dirigir nesses casos? Hoje, só após condenado pelo juiz é que o criminoso tem que devolver a CNH, e ainda assim só até passar por um curso de reciclagem.

2) Se o criminoso tem um patrimônio de no mínimo, digamos, R$ 20.000, que é o próprio Astra que ele usou para os homicídios / lesões corporais, por que estabelecer a fiança em 25% disso? A Lei não deveria estabelecer uma fiança de, no mínimo, o valor do veículo que o motorista estava dirigindo?

6 de dezembro de 2008

É hora de comprar?

Ontem, o presidente Lula disse que é hora de comprar. Afinal "deixando de comprar as fábricas não produzem mais automóveis e outros bens duráveis, o que pode fazer com que as montadoras de veículos promovam demissões" (grifo meu).

Duas afirmações, no mínimo, duvidosas.

Comecemos pela última. É claro que, se as fábricas não produzem, elas vão colocar gente pra fora. Porém, a indústria automobilística, que é a preocupação maior do presidente, mudou bastante nos últimos anos. O setor era intensivo em mão-de-obra, sendo quase automaticamente associado à figura do operário. Hoje, é intensivo em capital, com a maior parte das tarefas automatizada, seja por questões de segurança, qualidade ou produtividade.

As montadoras hoje empregam 113 mil pessoas. E isso ainda inclui ônibus e caminhões (mas a gente não vê o Lula falando "vamos comprar mais ônibus"). É pouca gente para o investimento dezenas de bilhões em máquinas, equipamentos, pesquisa e desenvolvimento e, claro, propaganda.

Aí tem os famosos "empregos indiretos". Ou deveríamos dizer "subempregos"? Alguém aí quer trabalhar em concessionária, oficina, estacionamento, posto de gasolina, lava-jato, ferro-velho? (Eu sei que é melhor que a fila do INSS, mas vamos pensar no custo de oportunidade...)

Ah! E "o setor gera impostos". Mas tirando todos os incentivos fiscais e para-fiscais (como empréstimos a juros camaradas no BNDES), e os custos de externalidades (poluição, congestionamentos e "acidentes"), não se justifica.

Passemos então à primeira afirmação: é hora de comprar alguma coisa? Com a renda fixa rendendo 13% ao ano, o dólar a R$ 2,50 e o IBOVESPA em 35 mil pontos, eu diria que sim. É hora de comprar títulos do Tesouro e talvez ações. Automóvel? Nem pensar.

1 de dezembro de 2008

Dez dicas para fazer supermercado (sem carro, claro)

Uma das perguntas que eu mais ouço quando falo que não tenho carro é:"Como você faz com as compras de supermercado?"

Sem mais delongas, aqui vão minhas 10 dicas:

  1. Saiba o que e quanto comprar. Antes de sair, veja o que você já tem. Calcule seu consumo. Faça listas, mentais ou em papel: mesmo que elas não sejam seguidas à risca, dão um bom balizamento. Afinal, você não vai querer ter o trabalho de comprar e carregar coisas só para jogá-las fora depois, não é mesmo?

  2. Faça a maior parte das compras no supermercado mais próximo. Ter pelo menos um supermercado com acesso fácil é importante se você quer deixar de depender do automóvel.

  3. Se você vai a pé, em vez de fazer compras uma vez por semana ou a cada 15 dias, faça a cada 2 ou 3 dias. Menos coisas para carregar de uma vez só é um fator chave. Bônus: comidas mais frescas e mais promoções.

  4. Uma boa mochila é essencial. Em termos de conforto e eficiência, elas batem as sacolas plásticas de longe. Sem falar, é claro, na ecologia. Uma sacola de pano reutilizável também é uma boa idéia, para as compras menores. Uma sacola de plástico-bolha é útil para transportar itens refrigerados e congelados sem sustos.

  5. Uma bicicleta com bagageiro te dá duas vantagens: você tem mais supermercados para escolher, não só o da sua quadra, e você não carrega peso: é só colocar as compras na bike e pedalar. Acho que a melhor maneira de arrumar compras em um bagageiro é levar a sua mochila, encher a mochila, fechá-la e amarrá-la no bagageiro. Mesmo que você vá ao supermercado mais próximo, é melhor ir de bicicleta quando for comprar itens mais pesados (material de limpeza, por exemplo).

  6. Vários supermercados no Plano Piloto deixam a gente levar os carrinhos até os blocos. Se você se empolgar ou precisar comprar mais do que dá pra carregar, essa é uma ótima solução.

  7. Às vezes, não tem outro jeito a não ser fazer compras de ônibus. Quando eu morei em Águas Claras, o único supermercado que existia ficava do outro lado da cidade. Valem os mesmos cuidados das compras a pé: levar mochila e não se empolgar na quantidade. Como não dá para ir ao supermercado com tanta frequência, o planejamento correto das compras é de extrema importância. Além disso, vá fora dos horários de pico do sistema de transporte: ninguém merece andar num ônibus cheio com uma mochila cheia.

  8. Menos volume, menos peso = mais eficiência! Os itens mais pesados das compras, em geral, são aqueles onde a gente está transportando... água! Não precisamos fazer isso, já existe um elaborado sistema da CAESB para fazer chegar água potável às nossas casas. Portanto compre: leite em pó em vez de leite em caixas; chá em pó em vez de chá em garrafas; suco concentrado em vez de suco pronto; desinfetante concentrado em vez de diluído; e assim vai.

  9. Faça compras pela Internet: se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Minhas experiências até hoje foram muito positivas. Os supermercados foram sempre cuidadosos em escolher as melhores frutas e verduras. Os frios e congelados vêm em embalagens apropriadas. E você recebe tudo no conforto da sua casa, no horário marcado. Ah, sim: quando eu fico com pena de pagar R$ 9 de taxa de entrega, eu me lembro dos R$ 900 por mês que custava meu carro.

  10. Se não der pra fazer nada disso (tipo: você precisa comprar 50 litros de refrigerante para uma festa de aniversário), bata no ombro da sua mãe, sogra, cunhado ou melhor amigo, explique a situação e peça uma carona ou o carro emprestado por algumas horas. Se todos recusarem, chame um táxi. Obviamente, esse é um último recurso: não abuse!

19 de novembro de 2008

Não existe almoço grátis, mas estacionamento grátis...

Circula pela Internet uma mensagem que diz, em resumo, o seguinte:

Lei Gratuidade de Estacionamento - Lei nº 1209/2004-DF
Se você gastar 10 vezes o valor do estacionamento no shopping, o estacionamento tem que ser gratuito.

Aparentemente, a lei existe, mas há uma liminar do STJ que suspende seus efeitos. Felizmente.

Afinal, por que o Governo deveria regular o preço de uma transação estritamente privada entre o dono do automóvel e o administrador do estacionamento? Há alguma falha de mercado que justifique a interferência estatal?

O que tem a ver o administrador do estacionamento -- que via de regra não é a mesma empresa que administra o shopping, e tenho certeza de que não é a mesma loja que vende para o cliente -- com o fato de que alguém comprou zero, 3x ou 10x o valor do estacionamento?

As lojas têm todo direito de isentar o cliente de seu estacionamento, como algumas de fato fazem. E a administração do shopping também pode estabelecer essa política, se for de sua preferência. Não entendo qual a motivação da Lei, a não ser o "populismo de elite".

Se o consumidor for ao shopping de metrô, ônibus, táxi, bicicleta ou a pé, como fica o desconto? Por que oferecer desconto apenas ao sujeito que já tem renda suficiente para andar de carro e fazer uma compra de mais de R$ 40 ou R$ 45 em um dia?

11 de novembro de 2008

Propaganda de motos dentro do ônibus (!)

Outro dia eu estava no ônibus aqui em Brasília quando vejo, na parte traseira interna, um anúncio dizendo: "Compre sua moto em 48x".

Essa pra mim é novidade. Eu queria saber em que outro ramo de negócios o empresário faz ou deixa que façam propaganda de seu concorrente.

Em todo lugar são comuns busdoors com propagandas de automóveis ou serviços relacionados. Aparentemente, o público-alvo disso não são os usuários do transporte coletivo, mas os motoristas presos no congestionamento. O que é questionável, já que quem está no ponto de ônibus também fica exposto aos anúncios enquanto espera sua linha, mas tudo bem.

Agora, "compre uma moto" dentro do ônibus é no mínimo um contra-senso. Mesmo porque o valor das parcelas acaba sendo tentador para quem paga R$ 6,00 por dia para se deslocar.

4 de novembro de 2008

SP: Trem do Aeroporto voltará -- por R$ 28!

Prefeitura, Governo do Estado e União estão juntando esforços para que o Trem do Aeroporto saia do papel.

A passagem custará o mesmo preço do ônibus executivo -- R$ 28. Ou seja, assim como o ônibus, ele será feito para que não conhece o sistema de transporte da cidade.

Alguns deve estar se perguntando: Trem do Aeroporto voltará? Quando foi que ele existiu um dia?

É chocante, mas um dia já houve trilhos saindo do Parque Pedro II até as proximidades do Aeroporto de Guarulhos -- que era, então, apenas uma Base Aérea militar.

Como o Brasil é um país sem visão de futuro, em 1965 o Regime Militar resolveu "erradicar" ramais ferroviários como se eles fossem algum tipo de doença. Foi aí que essa linha -- que se chamava Trem da Cantareira -- virou asfalto.

Tanto o transporte ferroviário era necessário na região que uma década mais tarde foi reconstruído um trecho da linha -- entre Luz e Tucuruvi -- mas dessa vez no subsolo. E hoje, 40 anos depois, fala-se em fazer estação em Guarulhos, para ligar ao Brás e aí à Luz.

Para quem quiser saber mais dessa história, visite a página da estação original que ainda está lá, dentro da Base Aérea.

Em tempo, com R$ 28 alguém pagaria 37 passagens desse trem -- em dinheiro de hoje, a tarifa custava R$ 0,75.

22 de outubro de 2008

Eixão mais "protegido" (contra quem?)

Como se não bastasse a proposição do fim do Eixão do Lazer (fechamento dos 18 km do Eixo Rodoviário durante os domingos, de 6 às 18 h), agora o GDF vem com mais uma novidade: a construção de muretas tipo new jersey no meio do Eixão. As muretas terão 85 cm de altura e dentro haverá um jardim com coroa-de-cristo, uma planta espinhosa "para que os pedestres não atravessem" (palavras do diretor do DER, Luiz Carlos Tanezini).

Eu não sou a favor de ninguém se arriscar para atravessar 6 faixas de carros a 80 km/h. Eu mesmo não faço isso. Mas vamos ver o lado de quem faz.

Para quem não sabe, a distância entre as passagens de pedestre do Eixão é de 720 metros. Isso significa que se você quiser ir de uma entrequadra a outra são 10 minutos de caminhada a mais só para atravessar a via. Sob sol ou chuva. O deslocamento transversal ao eixo, por exemplo, ir da comercial da 305 Norte para a comercial da 405 Norte, poderia ser uma caminhada de 12 minutos (0,9 km); em vez disso, leva 22 minutos(1,6 km).

E é comum fazer esse deslocamento a pé. Isso porque devido à organização das linhas de ônibus de Brasília, esse percurso que poderia ser de 1,5 km requer uma viagem de 9 km.

Outro problema é que as passagens subterrâneas em si são um nojo. Escuras, estreitas (3 m) e com cantos escondidos, sujas, com cheiro de urina e fezes. Prometem uma reforma (será que dessa vez haverá acessibilidade?), iluminação, câmeras de segurança. A mureta estará lá para sempre. Quanto tempo nossa segurança durará? Quanto tempo levará até o conserto de uma luz quebrada ou uma câmera destruída pelo vandalismo?

Prometem também construir 16 km de ciclovias, se o IPHAN deixar. De acordo com o Instituto, uma mureta de 18 km não fere a escala bucólica da cidade. De jeito nenhum. Mas uma ciclovia, isso sim é um crime contra a escala viária de Brasília.

A ciclovia, saindo ou não, junto com a divisão do Eixão em dois mesmo durante os domingos, será o novo mote para o fim do Eixão do Lazer. Eu não sou o único que pensa assim.

Não é à toa. O próprio Secretário de Transportes já cantou a bola:
“Se eu sentir que os outros dois projetos [reforma das passagens subterrâneas de pedestre e ciclovia] vão atrasar muito, peço para desmembrar o das barreiras.”
Por que não desmembrar o da reforma das passagens? Garanta primeiro a segurança do pedestre e depois coloque a barreira!

Brasília, mais uma vez, caminha no sentido oposto do resto do mundo. Enquanto em locais mais civilizados procura-se mitigar o impacto da passagem de grandes vias sobre o tecido urbano, aqui se quer aumentá-lo. Por quê?

A desculpa para a construção desse monstro são as colisões frontais entre veículos na via. Essas colisões são quase sempre fatais porque a velocidade relativa é de 160 km/h (considerando o limite de velocidade da via), e não há proteção eficiente para esse tipo de impacto porque os carros se destróem e as pessoas morrem esmagadas.

Que tal então reduzir o limite da via para 60 km/h? Seriam apenas 2 minutos a mais da Rodoviária até a Saída Sul ou Norte! Mas ao contrário do resto do mundo, aqui o Detran gosta de aumentar os limites de velocidade*, não diminuí-los. Então que tal mais fiscalização eletrônica para evitar o excesso de velocidade fora dos horários de pico? No último acidente, o motorista que atravessou o canteiro central dirgia em alta velocidade*.

Por que não fazer uma barreira com postes maleáveis, que absorveriam boa parte da energia cinética do veículo? Só em último caso poderia se pensar em fazer uma mureta. A propósito, de acordo com este instituto de pesquisas, 50 cm de altura são suficientes para desviar uma picape de 3 toneladas a 72 km/h.

Para que, ou melhor, contra quem servirão os 85 cm com plantas espinhosas em cima?

* links exclusivos para assinantes Correioweb ou Correio Braziliense

14 de outubro de 2008

Exemplo prático da importância de conduzir a bicicleta defensivamente

Imagine a situação ao lado. Ambas as vias são coletoras de mão dupla. Não há sinalização vertical nem horizontal. Quem vai primeiro? O veículo A, B ou C?

Veja que de qualquer modo A não pode ir antes de C, pois isso seria infração ao Artigo 38 do Código de Trânsito Brasileiro. Quem vira à esquerda tem que dar preferência a quem trafega no sentido contrário.

Se B e C fossem dois carros, a situação seria nebulosa. Por um lado, B está à direita de C, que é a regra normal de preferência. Por outro lado, B está fazendo uma conversão.

Como o veículo C era eu, de bicicleta, a situação fica clara. Diz o Artigo 38 do CTB: "Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas (...)".

O carro A parou para mim, mas o motorista de B avançou na minha frente, quase causando um acidente. Estar atento, mão no freio e comportamento defensivo foram minha salvação. E depois de tudo isso, um grito com vontade, mas sem xingar a mãe do motorista.

Fica a lição para os amigos ciclistas. Mesmo que você esteja no seu direito, esteja preparado para o pior.

8 de outubro de 2008

FÁCIL? Tá difícil...

Como grande fã de tudo que torna a vida mais fácil, fui ontem retirar meu Cartão Cidadão no Fácil DF. Nada mais de carregar dinheiro para pagar ônibus, nada de troco. Até aí tudo bem.

O problema é que, ao contrário de qualquer lugar inteligente do mundo, a passagem em Brasília custa mais caro no cartão do que em dinheiro. Ao comprar créditos na Internet, a passagem de R$ 2,00 sai por R$ 2,06 e a de R$ 3,00 por R$ 3,09.

Como o Fácil DF é uma entidade "sem fins lucrativos" formada pelas empresas de ônibus, fica a pergunta: o GDF autorizou o aumento? Ou pelo menos sabe que as empresas estão cobrando mais? O art. 4º, § 1º, a portaria da SETRANS que estabelece a bilhetagem eletrônica fala em estrutura tarifária que incentive o uso do cartão. O que existe hoje é o contrário e ninguém parece se importar.

3 de outubro de 2008

Ainda sobre a moto: álcool

Pesquisando um pouco mais sobre o mercado de motos, vi que está previsto o lançamento da moto flex em 2009. Espera-se que ela polua menos.

A solução, no entanto, vem meio tarde. Não só porque o ar das grandes cidades está intolerável, mas porque já deram um "jeitinho brasileiro" na história. Segundo um post do fimdetarde.net, é só trocar uma peça do carburador, e voilà, "álcool move meia frota de moto em Ribeirão Preto".

Veja o artigo aqui.

Pessoalmente, não acredito que a motocicleta vá se tornar uma solução sustentável só por conta do álcool, seja ele de fábrica ou não. Porém, é um passo nessa direção.

30 de setembro de 2008

Outro problema da moto: poluição

Além de ser mais caro do que o ônibus, conforme demonstrado no meu último post, a moto tem um problema adicional: poluição.

De acordo com dados do Ministérios das Cidades (pág. 23 desta publicação), a motocicleta média brasileira polui 120% a mais do que o carro. E olha que nossos carros não são exemplo para ninguém (talvez para a Índia). Eles poluem 6,4 vezes mais do que os ônibus.

O problema das motos é que os motores são simples e de baixa tecnologia; não têm injeção eletrônica, nem catalisador e não funcionam a álcool.

Entendo que a moto tem vantagens em tempo, conveniência, e potencialmente custo (se carregar 2 passageiros). Mas para cada pessoa que trocar o ônibus pela moto por qualquer motivo que seja, temos 14 (catorze!) vezes mais poluição.

E para quem ainda acha que moto é solução para o engarrafamento, saiba que a moto ocupa apenas 50% a menos de espaço na via que um carro. Isso significa, por passageiro, 4,2 vezes mais congestionamento do que provoca um ônibus.

26 de setembro de 2008

O que é mais barato: moto ou ônibus?

Essa semana, saiu na imprensa em vários jornais, entre eles Folha de São Paulo e Infomoney, uma pesquisa da ANTP que diz que andar de moto é mais barato que andar de ônibus.

Eu não sei qual foi a metodologia usada pela ANTP (procurei no site deles e não encontrei maiores detalhes), mas vendo o valor que eles colocaram para a viagem de carro, desconfio do resultado.

A tal pesquisa diz que uma viagem de carro de 7 km custa R$ 4,84. A mesma viagem de moto custaria R$ 1,49 e de ônibus R$ 1,96 (bem perto do custo em Brasília: R$ 2,00).

O preço da viagem de carro me parece bastante subestimado. Vou assumir que a pessoa faz a tal viagem de 7 km, ida e volta, 1 vez por dia, todos os dias. Claro que o valor final depende do tipo de carro, então fiz 3 cenários: um carro zero 1.4, um seminovo 1.0 e um usado.

Depois de ver que R$ 4,84 está grosseiramente subestimado, fiz também o cenário para moto. Considerei que moto não paga estacionamento nem seguro. Mesmo assim, o passeio de motoca ainda sai 66% mais caro do que o ônibus -- e mais do que o dobro do que tinha previsto a ANTP.


Novo 1.4 Semi 1.0 Usado Moto
Valor do veículo R$ 35.000 R$ 20.000 R$ 12.000 R$ 6.000
Consumo cidade km/l 10 12 7 25
Gasolina R$ R$ 67,20 R$ 56,00 R$ 96,00 R$ 26,88
Manutenção % 40% 60% 80% 60%
Manutenção R$ R$ 26,88 R$ 33,60 R$ 76,80 R$ 16,13
Depreciação ao ano 25% 20% 15% 15%
Depreciação R$ R$ 729 R$ 333 R$ 150 R$ 75
Juros do capital (1% am) R$ 350 R$ 200 R$ 120 R$ 60





Seguro (c/ gar. - 8% ao ano) R$ 233 R$ 133 R$ 80 R$ -
IPVA (3% ao ano) + DPVAT R$ 94 R$ 57 R$ 37 R$ 22





Estacionamento (res.+trab.) R$ 150 R$ 150 R$ 150 R$ -





TOTAL MENSAL R$ R$ 1.650,75 R$ 962,93 R$ 709,47 R$ 199,67
Total por viagem R$ 27,51 R$ 16,05 R$ 11,82 R$ 3,33

24 de setembro de 2008

Metrô x Esplanada: o que falta para integrar?

Até o mês passado, a desculpa do GDF era que os veículos da TCB (aqueles roxos) não tinham o padrão de conforto "necessário" para serem integrados ao metrô. Agora que os ônibus são novinhos, com ar condicionado e acesso para cadeiras de roda, minha pergunta é: o que falta para integrar a Estação Central com a Esplanada dos Ministérios?

"Falta o Brasília Integrada", dirá a Secretaria de Transportes. É uma meia-verdade. Vejamos por quê. Existem 3 tipos de integração: física, tarifária e operacional.

Integração física é simplesmente colocar uma linha perto da outra, ou duas linhas passando pelo mesmo ponto de parada. Por exemplo, quando o São Sebastião - W3 Sul (147.2) pára na Estação Asa Sul, ali há uma integração física.

Integração tarifária é fazer com que andar em mais de um veículo custe menos do que a soma dos tarifas individuais. É o que acontece em SP: a passagem de ônibus custa R$ 2,30, a de metrô R$ 2,40, mas uma viagem em ambos os modos, em vez de R$ 4,70, custa R$ 3,65.

Integração operacional é criar uma lógica entre modos, trajetos, preços e horários de forma a tornar a utilização do transporte coletivo mais eficiente.

Volto ao caso Metrô x Esplanada. A integração tarifária seria mais fácil com o Brasília Integrada, sem dúvida, mas o Metrô-Rio tem tido experiências exitosas com bilhetes de integração em papel. Inclusive, em algumas linhas, não se cobra nada a mais do usuário.

A integração física, então, não depende em absolutamente nada do Brasília Integrada. É claro que a Estação Central fica embaixo da Rodoviária do Plano Piloto e isso por si só já serve como uma integração. Mas poderia ser muito melhor.

As linhas que fazem a continuação natural da viagem de quem chega de metrô à Rodoviária, por algum motivo esdrúxulo, ficam todas do lado oposto ao da Estação Central. "Sempre foi assim" não é motivo para continuar do mesmo jeito.

Para quem é homem, como eu, uma caminhada de 4 ou 5 minutos pelo terminal não é agradável, mas não chega a ser um problema. Para uma mulher jovem, arrumada para o trabalho, de salto alto e tudo, a história é outra. Ainda mais com a triste presença constante de crianças e adolescentes já viciados em drogas por ali.

A solução: tirar da Plataforma C (a que é em frente ao metrô) os ônibus de Taguatinga e Ceilândia. O metrô já vem dessas cidades, portanto o número de passageiros do metrô que embarca nessas linhas é zero. No lugar delas, colocar o Rodoviária - Esplanada (108), o L2/W3 Norte (115), o W3/L2 Norte (116), o UNB (110), e, se não for pedir muito, um circular para o Eixo Norte.

Difícil? Não. Nenhuma obra é necessária. Os acessos que estão lá servem perfeitamente. É só trocar meia dúzia de placas de lugar. Então, o que é que está faltando?

22 de setembro de 2008

A vida sem carro e o Dia Sem Carro

Segunda-feira, 22 de setembro de 2008. Para alguns poucos em Brasília, hoje é o "Dia Mundial Na Cidade Sem Meu Carro". Para a grande maioria, infelizmente, hoje é um dia como outro qualquer.

Para os 1 milhão de motoristas brasilienses, tudo está absolutamente normal. As 14 faixas dos Eixos Rodoviários estão abertas, assim como as 12 do Eixo Monumental e as vias W3, L2 e L4. Os automóveis ocupam os estacionamentos da Esplanada como em qualquer outro dia. Quem pára o carro em pleno espaço público no Setor de Autarquias o fez hoje como faz sempre, ou seja, contando com a conivência do DETRAN e da PM.

Para os 2,3 milhões de habitantes que não têm carro, também nada extraordinário está acontecendo hoje. Para essa gente, que é a maioria da população, não custa lembrar, não existe um Dia Sem Carro. A nossa "Cidade Sem Meu Carro" acontece 365 dias por ano, faça chuva ou faça sol.

Os "Sem Meu Carro" queriam ver, nem que fosse por um diazinho só, essa cidade ser um pouco menos difícil. Mas nada de diferente está acontecendo hoje. Os ônibus não estão mais cheios, nem mais vazios. As linhas e tarifas são as de sempre. Os zebrinhas* novos continuam dando as mesmas voltas dos zebrinhas velhos. O metrô não tem integração. Os buracos nas calçadas estão lá. As passarelas sob o Eixão seguem escuras e fedorentas. O trânsito continua seguindo a lei do mais forte e ameaçando ciclistas e pedestres.

Ainda assim, tomamos o transporte coletivo, caminhamos e pedalamos, e seguimos nossa vida sem carro. Sem protestar, sem aparecer no jornal e sem fazer um "Dia Mundial" por dia.

Na visão dos motoristas, quando se tira o "Meu Carro", sobra a só a "Cidade Sem". Cidade Sem transporte de qualidade, Cidade Sem calçadas, Cidade Sem ciclovias, Cidade Sem qualquer coisa que faça alguém abrir mão do automóvel. Mas ninguém teve coragem de tirar o motorista de seu conforto, mesmo por um dia.

Ao viver sem carro, a gente aprende que a "Cidade Sem" pode ser difícil, mas não é impossível. O "Dia Sem Carro" deveria ensinar isso: que é possível um dia, uma semana, ou um ano sem carro. Que a vida sem carro depende mais da vontade de cada um do que da vontade do Governo, pois as soluções cotidianas podem não ser as melhores, mas existem.

Enfim, fica a pergunta: se nós já sabemos a lição, e quem deveria aprendê-la não está sendo convidado a refletir, qual o sentido desse "Dia Sem Carro"? É colocar o Ministro das Cidades por 5 minutos dentro de um ônibus ou pedalando em uma enorme calçada, cercado de seguranças, para tirar fotos? É fazer mais um seminário cheio de promessas e discussões sobre problemas para os quais já se sabe a solução, mas não se quer aplicá-la?

Fernando Pessoa dizia que "tudo vale a pena, quando a alma não é pequena". Nos próximos 364 dias, pensarei assim. No entanto, neste dia 22 de setembro de 2008, despeço-me com as palavras revoltadas de Caetano Veloso:
"(...) Vão sempre matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada, nada, nada. Absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa! (...)"

Porque, sinceramente, esse Dia Sem Carro não vale a pena!

* Zebrinha é o apelido pelo qual são conhecidos os micro-ônibus que circulam no Plano Piloto em Brasília.

Bem-vindos ao meu blog!

Nenhum dia melhor para lançar um blog sobre vida sem carro do que no dia 22 de setembro. Sejam todos bem-vindos, leiam e façam seus comentários.