Como se não bastasse a proposição do fim do Eixão do Lazer (fechamento dos 18 km do Eixo Rodoviário durante os domingos, de 6 às 18 h), agora o GDF vem com mais uma novidade: a construção de muretas tipo new jersey no meio do Eixão. As muretas terão 85 cm de altura e dentro haverá um jardim com coroa-de-cristo, uma planta espinhosa "para que os pedestres não atravessem" (palavras do diretor do DER, Luiz Carlos Tanezini).
Eu não sou a favor de ninguém se arriscar para atravessar 6 faixas de carros a 80 km/h. Eu mesmo não faço isso. Mas vamos ver o lado de quem faz.
Para quem não sabe, a distância entre as passagens de pedestre do Eixão é de 720 metros. Isso significa que se você quiser ir de uma entrequadra a outra são 10 minutos de caminhada a mais só para atravessar a via. Sob sol ou chuva. O deslocamento transversal ao eixo, por exemplo, ir da comercial da 305 Norte para a comercial da 405 Norte, poderia ser uma caminhada de 12 minutos (0,9 km); em vez disso, leva 22 minutos(1,6 km).
E é comum fazer esse deslocamento a pé. Isso porque devido à organização das linhas de ônibus de Brasília, esse percurso que poderia ser de 1,5 km requer uma viagem de 9 km.
Outro problema é que as passagens subterrâneas em si são um nojo. Escuras, estreitas (3 m) e com cantos escondidos, sujas, com cheiro de urina e fezes. Prometem uma reforma (será que dessa vez haverá acessibilidade?), iluminação, câmeras de segurança. A mureta estará lá para sempre. Quanto tempo nossa segurança durará? Quanto tempo levará até o conserto de uma luz quebrada ou uma câmera destruída pelo vandalismo?
Prometem também construir 16 km de ciclovias, se o IPHAN deixar. De acordo com o Instituto, uma mureta de 18 km não fere a escala bucólica da cidade. De jeito nenhum. Mas uma ciclovia, isso sim é um crime contra a escala viária de Brasília.
A ciclovia, saindo ou não, junto com a divisão do Eixão em dois mesmo durante os domingos, será o novo mote para o fim do Eixão do Lazer. Eu não sou o único que pensa assim.
Não é à toa. O próprio Secretário de Transportes já cantou a bola:
“Se eu sentir que os outros dois projetos [reforma das passagens subterrâneas de pedestre e ciclovia] vão atrasar muito, peço para desmembrar o das barreiras.”
Por que não desmembrar o da reforma das passagens? Garanta primeiro a segurança do pedestre e depois coloque a barreira!
Brasília, mais uma vez, caminha no sentido oposto do resto do mundo. Enquanto em locais mais civilizados procura-se mitigar o impacto da passagem de grandes vias sobre o tecido urbano, aqui se quer aumentá-lo. Por quê?
A desculpa para a construção desse monstro são as colisões frontais entre veículos na via. Essas colisões são quase sempre fatais porque a velocidade relativa é de 160 km/h (considerando o limite de velocidade da via), e não há proteção eficiente para esse tipo de impacto porque os carros se destróem e as pessoas morrem esmagadas.
Que tal então reduzir o limite da via para 60 km/h? Seriam apenas 2 minutos a mais da Rodoviária até a Saída Sul ou Norte! Mas ao contrário do resto do mundo, aqui o Detran gosta de aumentar os limites de velocidade*, não diminuí-los. Então que tal mais fiscalização eletrônica para evitar o excesso de velocidade fora dos horários de pico? No último acidente, o motorista que atravessou o canteiro central dirgia em alta velocidade*.
Por que não fazer uma barreira com postes maleáveis, que absorveriam boa parte da energia cinética do veículo? Só em último caso poderia se pensar em fazer uma mureta. A propósito, de acordo com este instituto de pesquisas, 50 cm de altura são suficientes para desviar uma picape de 3 toneladas a 72 km/h.
Para que, ou melhor, contra quem servirão os 85 cm com plantas espinhosas em cima?
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