Em diversos blogs de pedestres e ciclistas, eu vejo que as pessoas se sentem impotentes diante de uma máquina de 2 toneladas na sua frente. E com razão. Porém, essa mesma máquina é operada por um ser humano. Mais razão ainda para ter medo? Sim e não.
Sim porque os seres humanos falham. Quando um motorista falha, quase sempre, alguém acaba ferido ou morto. Não é à toa que nos filmes futuristas, os veículos são conduzidos por um sistema automático qualquer. A presença de um ser humano ali é um risco constante.
Por outro lado, seres humanos (até mesmo motoristas) têm sentimentos tais como compaixão, medo e vergonha. E isso, de vez em quando, pode ser útil.
Ontem, eu estava desembarcando do ônibus que vai do Metrô Tatuapé ao Aeroporto de Guarulhos. O ônibus tem piso baixo, o que significa mais ou menos da altura da calçada. Porém, no ponto final, havia um carro parado no ponto de ônibus, com um motorista tranquilamente cochilando enquanto aguardava algum passageiro chegar. O motorista do ônibus não pensou duas vezes: colocou todo mundo pra descer no meio da rua, com mala e tudo.
Eu podia, é claro, ter reclamado com o motorista do ônibus. Aí eu pensei: o coitado já trabalha no trânsito de SP, não vou estressá-lo mais ainda. Vou reclamar com o verdadeiro culpado: o sujeito folgado que parou o carro em frente à placa do ponto de ônibus e foi tirar uma soneca.
Sem brigar, disse "oi, com licença, o senhor está parado no ponto de ônibus" e apontei pro pessoal descendo no meio da rua atrás de mim. Ele me olhou de alto a baixo como quem diz "quem é você". Eu insisti: "o senhor está atrapalhando, aqui é um ponto de ônibus", mostrei a placa, e fui embora pegar meu voo. Quinze segundos depois, o ponto de ônibus estava desocupado.
É o poder do constrangimento. Deveríamos tentar isso mais vezes. Às vezes, funciona.
A propósito, se não funcionar, não compre briga sozinho: pedestres e ciclistas são mesmo o lado mais fraco da corda.
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