20 de agosto de 2009

Brasilienses perdem respeito pela faixa de pedestre

A triste notícia é de ontem, do Correio Braziliense. O trânsito de Brasília está mais violento, pelo motivo de sempre: mais carros, mesmo espaço, nenhuma fiscalização resultam em mais pressa, mais acidentes e nenhuma punição. Como sempre, a corda arrebenta do lado mais fraco: os pedestres, principalmente crianças e idosos, e ciclistas.

É assustador que 2 pessoas por semana morram atropeladas nas vias do Distrito Federal, em uma média que já se realiza há anos. Pior que isso é saber que 10% dessas pessoas estavam atravessando uma faixa de pedestre, onde elas têm a preferência.

"Preferência" é uma palavra fraca, um termo meio técnico-legal que não diz muita coisa, traduz um direito de passagem que não é o principal objeto da faixa de pedestres. A travessia sobre a faixa, com todo respeito ao Estado laico, deveria chama-se "direito sagrado". Sim, porque não há quem discorde de que a vida humana é sagrada; ou, pelo menos, mais sagrada que a pressa...

Uma vez, quando trabalhava no Ministério das Cidades, ouvi o seguinte de um consultor internacional: "se a vida humana no Brasil fosse tão sagrada quanto as vacas na Índia, muita gente não ia querer andar de carro". Triste, mas ainda somos uma sociedade onde a vida do pedestre vale muito pouco. Mesmo com todos os "Paz no Trânsito".

O respeito à faixa é a vitória da segurança sobre a imprudência; da civilização sobre a baderna; da cidade para todos sobre o asfalto para poucos; da vida sobre a morte.

Da próxima vez que você estiver dirigindo com pressa, pense nisso, e preste bastante atenção nas faixas de pedestres. Elas estão lá para proteger o que há de mais precioso e sagrado no mundo -- a vida humana. Ainda há esperança para o trânsito brasiliense.

2 comentários:

Nando disse...

Caro Rodrigo, vc acha assustador que 2 pessoas por semana morram atropeladas nas vias do D,F.?
Tá de brincadeira. Eu acho essa estatística furada, acredito ser um pouco mais. Sou pedestre profissional. Tenho 40 anos, nunca tive carros, ando que nem um cachorro, sou paulista, moro há 4 anos em Sobradinho e trabalho no plano. Digo isso porque só o que vejo caminhando, fico de cara. Nunca vi um lugar tão ruim para andar a pé. Brasília foi desenhada/planejada única e exclusivamente para assassinar pedestres e ciclistas. Lúcio Costa e Oscar Niemeyer deveriam ser preso por homicídio culposo. Um crime o que fizeram. Infelizmente o pedestre não foi contemplado. Quando chega um amigo ou parente, a primeira dica que dou é para nunca atravessarem na faixa de pedestre. Conheço 2 pessoas que morreram ao atravessar a faixa, inclusive uma grávida. E o povo brasiliense ainda se orgulha disso...E quando alguém de outro estado dirije pelas vias do D.F. e nem sabe desse lance. Eu mesmo passo longe das faixas, só atravesso quando os carros já passaram. Não confio em ninguém dentro de um veículo. E o tanto de neguinho que vejo esticado, morto toda semana na BR-020, perto de casa?
Massa esse blog, parabéns pela iniciativa.

Rodrigo Novaes disse...

Tive um professor na faculdade, o saudoso Miguel de Simoni, que sempre chamava atenção para a diferença entre o que está escrito no papel, nos relatórios, e o que realmente acontece na vida. Certamente existe aí uma subnotificação, e sempre haverá.

Não acho que a cidade precise ser ruim para andar a pé por conta do projeto original -- Niemeyer e Costa não projetaram a falta de calçadas, exceto nas tesourinhas. Eles não projetaram calçada como parte da cidade, o que já é grave, mas não impeditivo. A mobilidade será sempre difícil pela setorização, sim, mas isso não quer dizer que não possamos ter calçadas decentes que vão de "A" a "B", faixas de pedestre, tudo em conformidade com o tombamento.

Vou sempre a Sobradinho e a BR-020 merece algumas passarelas há bastante tempo (umas 3 ou 4 pelo menos, mas URGENTEMENTE uma em frente ao Estádio).

Quanto à sua experiência com as faixas, nossa obrigação é usá-la e fazer os carros pararem sim. Se nos acostumamos a atravessar fora da faixa, os motoristas também se acostumam a pensar que a gente não se importa com isso, e aí fica pior para todos.