29 de agosto de 2009

Armadilhas do carro nas finanças pessoais (1)

Fui provocado a escrever mais mensagens sobre finanças pessoais. Acho que a Internet já tem excelentes sítios sobre o assunto, inclusive em português e destinados a leitores brasileiros. Primeiro vou dar um pontapé inicial para quem se sente meio perdido por aí. Afinal, coisas simples muitas vezes só se tornam simples depois de explicadas.

A Regra de Ouro das finanças pessoais é tão simples que dá pra escrever de várias formas:
- Você não pode gastar mais do que ganha.
- Tem que entrar mais dinheiro na sua conta do que o que sai dela.
- Suas despesas precisam ser menores que suas receitas.

Decorre daí que você precisa saber quanto ganha e quanto gasta, o que é fácil, mas requer que você faça um orçamento. O que não é um bicho de sete cabeças -- é simplesmente fazer uma memória que diz de onde vem e para onde vai seu dinheiro. Depois, você pode partir daí para começar a fazer previsões e planos para o futuro.

Automóvel é um bem que vai tornar o seu orçamento bem mais complicado. Envolve despesas anuais e mensais, fixas e variáveis, previsíveis e imprevisíveis. Por isso, você pode cair em algumas armadilhas.

Na verdade, toda a cadeia de produção do automóvel é feita para dar a impressão de que é tudo simples, e que se a compra cabe no seu bolso, então tudo bem. Infelizmente, não é bem assim. Nos próximos posts vou esclarecer alguns erros básicos envolvendo automóvel e orçamento.

20 de agosto de 2009

Brasilienses perdem respeito pela faixa de pedestre

A triste notícia é de ontem, do Correio Braziliense. O trânsito de Brasília está mais violento, pelo motivo de sempre: mais carros, mesmo espaço, nenhuma fiscalização resultam em mais pressa, mais acidentes e nenhuma punição. Como sempre, a corda arrebenta do lado mais fraco: os pedestres, principalmente crianças e idosos, e ciclistas.

É assustador que 2 pessoas por semana morram atropeladas nas vias do Distrito Federal, em uma média que já se realiza há anos. Pior que isso é saber que 10% dessas pessoas estavam atravessando uma faixa de pedestre, onde elas têm a preferência.

"Preferência" é uma palavra fraca, um termo meio técnico-legal que não diz muita coisa, traduz um direito de passagem que não é o principal objeto da faixa de pedestres. A travessia sobre a faixa, com todo respeito ao Estado laico, deveria chama-se "direito sagrado". Sim, porque não há quem discorde de que a vida humana é sagrada; ou, pelo menos, mais sagrada que a pressa...

Uma vez, quando trabalhava no Ministério das Cidades, ouvi o seguinte de um consultor internacional: "se a vida humana no Brasil fosse tão sagrada quanto as vacas na Índia, muita gente não ia querer andar de carro". Triste, mas ainda somos uma sociedade onde a vida do pedestre vale muito pouco. Mesmo com todos os "Paz no Trânsito".

O respeito à faixa é a vitória da segurança sobre a imprudência; da civilização sobre a baderna; da cidade para todos sobre o asfalto para poucos; da vida sobre a morte.

Da próxima vez que você estiver dirigindo com pressa, pense nisso, e preste bastante atenção nas faixas de pedestres. Elas estão lá para proteger o que há de mais precioso e sagrado no mundo -- a vida humana. Ainda há esperança para o trânsito brasiliense.

14 de agosto de 2009

Cada cidadão, um guarda de trânsito!

Governos modernos recebem por telefone ou pela Internet denúncias sobre assuntos que consideram de seu interesse: crimes em geral, corrupção de servidores, tráfico de pessoas, queimadas, pirataria e por aí vai. Apesar de não serem sistemas perfeitos, as vantagens são evidentes: ao dar um certo poder de polícia ao cidadão comum, inibe-se o descumprimento e aumenta-se a eficiência da fiscalização de uma lei.

Isso vale para muitas leis, mas não vale para o Código de Trânsito Brasileiro.

Sabemos que nunca haverá policiais militares ou guardas municipais ou agentes do Detran suficientes para fiscalizar todo o trânsito, simplesmente porque isso sairia caro demais para qualquer governo. Mas, tristemente, o cidadão não pode denunciar uma infração de trânsito! Ou a infração é flagrada pelo agente de trânsito, ou é como se ela nunca tivesse existido. Isso dá ao mau motorista a quase certeza da impunidade.

Em 1997, quando foi aprovado o CTB, uma denúncia dessas implicaria na prática a palavra do denunciante contra a do motorista. Mas hoje, com a evolução da tecnologia, é fácil usar um celular para fotografar um carro estacionado em local proibido, ou filmar alguém trafegando pelo acostamento. Cada cidadão munido com um celular com câmera está pronto a produzir provas irrefutáveis do abuso alheio.

Imaginem o efeito revolucionário disto: calçadas livres dos carros, veículos parando nas faixas de pedestres, o motorista correto não sendo ultrapassado pelos espertinhos no congestionamento, ninguém jogando lixo na rua, todos os motociclistas usando capacete.

O Brasil precisa tomar coragem e dar esse grande passo para um trânsito civilizado. Infelizmente estamos caminhando no sentido contrário. Vamos deixar de ser coniventes com os infratores. Denúncia eletrônica nos DETRANs já: cada cidadão, um guarda de trânsito!

4 de agosto de 2009

"Como comprar um carro sem gastar um centavo a mais no orçamento"

Recentemente, uma das maiores montadoras brasileiras lançou uma campanha de vendas cujo mote está no título acima. A propaganda na televisão mostra uma pessoa tomando banho quente e diz que com "pequenas medidas" dá para economizar o suficiente para levar um carro para casa.

Será verdade? Vejamos. O carro mais barato dessa marca custa hoje pouco mais de R$ 24.000. Começamos a fazer algumas contas:
1) supondo compra à vista, mês passado esse dinheiro rendia na poupança R$ 132 (se for a prazo, como sug
ere a propaganda, os juros são bem maiores);
2) o seguro desse carro vai ser cerca de R$ 2.592 por ano, ou seja R$ 216 mensais (assumir o risco de batida ou roubo, economicamente falando, é quase o mesmo que pagar seguro);
3) como carros não duram para sempre, quem quiser depois de 4 anos comprar outro igual vai ter que juntar, desde já, 25% desse valor, ou R$ 125 por mês (a conta aumenta para trocar mais cedo, por exemplo, para trocar com 2 anos, R$ 180);
4) o IPVA desse carro sairá cerca de R$ 720 por ano, ou R$ 60 mensais.

Então, o carro mais barato da propaganda, só para ficar parado na rua em frente à sua casa, vai lhe custar R$ 533 por mês. E você ainda vai colocar gasolina, óleo, pneus, revisões, estacionamento e tudo mais que um carro precisa. Mas como transporte público não é de graça também, vamos esquecer essa parte.

A grande maioria das pessoas não chamaria um corte de R$ 533 no orçamento de "pequena economia". A última Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE* revela itens que estão acima desse valor, mesmo para famílias com rendimento acima de R$ 6.000, são coisas onde é difícil fazer muita economia: aluguel, supermercado, plano de saúde e educação. A eletricidade, que aparece na propaganda, custa 1/4 desse valor em média.

Aplica-se melhor a esse caso o famoso mote do cartão de crédito: quem compra automóvel é porque acha que o conforto que ele oferece "não tem preço". Mas que não reste dúvida de que a mordida no orçamento será considerável. Dizer o contrário é, simplesmente, faltar com a verdade.

* A pesquisa é de 2003, mas corrigi os valores originais pelo IPCA com auxílio dos dados deste site.